quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Aluguel de ações - parte 2


No artigo Aluguel de ações - parte 1 apresentamos os conceitos básicos desta operação, cuja importância e popularidade tem aumentado nos últimos anos. Nesse artigo, iremos ilustrar como é possível obter bons resultados financeiros com esta operação, operando como doador de ações.


Para o doador, o aluguel de suas ações se assemelha ao aluguel de um imóvel, ou seja, além da valorização/desvalorização da ação emprestada, é percebida uma remuneração extra com o aluguel. Melhor ainda é o fato dessa operação não trazer risco de crédito, pois, como dissemos no primeiro artigo, o locatário de suas ações sempre será a CBLC e a CBLC é o melhor "inquilino" que existe, pois nunca deixa de honrar com seus compromissos (o mesmo não se pode dizer no caso do aluguel de imóveis).

Entretanto, enquanto durar o empréstimo das ações, não será possível vendê-las. O doador de ações deve, então, determinar um prazo máximo para a operação que seja compatível com suas necessidades e expectativas. É justamente pelo fato de não poder negociar suas ações enquanto perdurar o empréstimo que torna essa operação atraente aos investidores de longo prazo. Portanto, essa operação não é aconselhável para os investidores que operam no curtíssimo, curto e médio prazos.

A tributação do Imposto de Renda incidente sobre o empréstimo de ações, para o doador, assemelha-se à tributação aplicada nas operações de renda fixa, ou seja, aplica-se a tabela progressiva de alíquota de IR, de acordo com o prazo da operação:

Prazos e alíquotas de IR

  • até 6 meses - alíquota de 22,5%
  • entre 6 e 12 meses - alíquota de 20,0%
  • entre 12 e 24 meses - alíquota de 17,5%
  • acima de 24 meses - alíquota de 15,0%

Por menor que seja a remuneração, o aluguel de ações permite, ao doador, obter receita que ele não receberia normalmente. No longo prazo, tal receita resultará em bons lucros! Veja esse exemplo simples:

Suponha que você se encaixe na categoria investidor de longo prazo, ou seja, mantém uma carteira de ações durante longos períodos. Se ao longo dos anos você persistentemente emprestar ações, obtendo uma remuneração de 3% ao ano apenas com esta operação, sobre uma carteira de R$ 10 mil. Ao longo dos anos você obterá, além da rentabilidade da própria carteira de ações, uma rentabilidade de:
  • em um ano: 3% (ou R$ 300,00);
  • em cinco anos: 15,93% (ou R$ 1.593,00);
  • em dez anos: 34,39% (ou R$ 3.439,00);
  • em quinze anos: 55,80% (ou R$ 5.580,00);
  • em vinte anos: 80,61% (ou R$ 8.061,00);
  • em vinte e cinco anos: 109,38% (ou R$ 10.938,00);
  • em trinta anos: 142,73% (ou R$ 14.273,00).
Obviamente o exemplo acima é apenas ilustrativo. Cabe ressaltar que, assim como no mercado à vista de ações, as taxas dos empréstimos de ações oscilam ao sabor da demanda e da oferta. Via de regra, ações ou mercados em queda tendem a elevar as taxas de empréstimo e, em momentos de alta de ações ou do mercado, tendem a deprimir as taxas.

Não custa lembrar que eventuais proventos percebidos durante a constância do contrato de aluguel são pagos ao doador (verdadeiro dono dos papéis). O ajuste de tais proventos é feito no encerramento do contrato.

Assim como no primeiro artigo da série "Aluguel de ações", cabem as recomendações de leitura a leitura do folheto BTC, disponível para download na página da Bmf&Bovespa.

Artigo escrito por Flávio Girão Guimarães.

Infomoney: Seguro de carro: pesquise preços e economize

O site Infomoney lançou um simulador para comparação de prêmios de seguros de automóveis, que por sí só vale muito a pena. Mas nossa recomendação de hoje é para o artigo que acompanha o simulador. Trata-se de um verdadeiro compêndio para quem quer saber um pouco mais sobre seguros e especialmente sobre as particularidades do seguro de automóveis. Para acessar ao simulador e ler o artigo, clique aqui.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Aluguel de ações - parte 1


Muitos investidores de renda variável não se importam com a direção do mercado. Se o mesmo está em alta, utilizam técnicas e operações que, em parte ou no todo, implicam em uma compra. O contrário também é verdade. Na queda do mercado, a utilização de técnicas e operações que geram, em parte ou no todo, uma venda, podem resultar em bons lucros.

O aluguel de ações é uma das operações utilizadas para mercados em queda. O aluguel também é benéfico para os investidores de longo prazo. Vamos entender como funciona:

Um investidor, que queira aproveitar uma tendência de baixa no mercado de ações, ou a queda de uma empresa específica, pode alugar a ação ou ações correspondentes. Esse investidor é conhecido no mercado como tomador de ações. Para alugar um papel, deve o tomador depositar na bolsa de valores alguma garantia, tais como moeda corrente nacional, títulos públicos e ações pertencentes ao Índice Bovespa.

Já o investidor que disponibiliza suas ações para empréstimo é conhecido como doador de ações. Ao disponibilizar suas ações, o doador estabelece: a quantidade, a taxa do aluguel (em percentual ao ano), o prazo máximo do empréstimo, se o mesmo é renovável no vencimento e se o mesmo pode ser liquidado antecipadamente pelo tomador ou pelo próprio doador.

Durante o aluguel, os eventuais proventos e bonificações serão distribuídos para o doador de ações. Os ajustes dos proventos são feitos na data de liquidação da operação, junto com o pagamento da taxa do aluguel.

No Brasil, as ofertas de ações para aluguel estão concentradas no Banco de Títulos – BTC, da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia – CBLC. E a própria CBLC age como contraparte central das operações de empréstimo, ou seja, quem empresta ações, o faz para a CBLC. Quem toma emprestado ações, toma da CBLC. Tal mecanismo garante que todas as operações serão liquidadas, conforme o contrato. Caso o doador não liquide ou renove a operação até a data pactuada, a própria CBLC se encarrega de liquidar a operação, devolvendo as ações ao tomador e depositando a receita correspondente. Já o tomador é punido com o aluguel compulsório de ações, em seu nome, e utilização das garantias para pagamento do tomador.

O custo para o tomador, assim como a receita do doador, dependem do montante da operação, da taxa de aluguel pactuada e do prazo da operação. Cada corretora adota um critério próprio para cobrar o serviço de aluguel de ações, que será acrescido ao custo do tomador, ou deduzido da receita do doador.

A tributação para o tomador de ações segue a lógica da tributação aplicável às operações de compra e venda de renda variável. Ou seja, alíquota de 15% de imposto de renda para os eventuais ganhos (20% no caso de day trade). Já para os doadores, o imposto de renda segue a lógica da tributação aplicável às operações de renda fixa, com alíquotas regressivas de acordo com o prazo da operação.

Caso você se interesse pelo aluguel, procure sua corretora de valores para obter maiores detalhes, especialmente para saber os custos de tal modalidade de operação. Recomenda-se também a leitura do folheto BTC, disponível para download na página da Bmf&Bovespa.

Artigo escrito por Flávio Girão Guimarães.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Benefícios da Previdência Complementar - Você precisa?

Diferente do que pode parecer à primeira vista, a previdência complementar não serve apenas para as pessoas que acreditam necessitar de uma complementação ao INSS, pois os produtos de previdência utilizam suas regras – em especial os benefícios tributários – para lhe ajudar a atingir vários objetivos, e você pode precisar, principalmente, em 3 (três) situações:

  • garantir ou complementar uma aposentadoria;
  • facilitar projetos financeiros de médio/longo prazo;
  • permitir planejar uma sucessão patrimonial simples e barata.
Garantir ou complementar uma aposentadoria é a forma mais simples e conhecida de utilizar os produtos de previdência, pois é intuitivo e todos se preocupam com o futuro do INSS e se os valores recebidos serão suficientes para garantir uma velhice tranquila. É importante lembrar que um dos maiores benefícios para auxiliar na “construção” da sua aposentadoria – o diferimento tributário* – está restrito ao produto PGBL ou aos planos de benefícios oferecidos pelos fundos de pensão, que nem sempre serão os melhores produtos para você, pois devem ser utilizados apenas por pessoas que fazem declaração completa de imposto de renda.

Outra forma de se beneficiar dos produtos de previdência é utilizá-los para facilitar projetos financeiros de médio/longo prazo. Existem benefícios tributários interessantes para os produtos de previdência – isenção de come-cotas e a possibilidade de escolher entre 2 (duas) tabelas de imposto de renda. Contudo, como veremos nos textos específicos sobre esse tema, na maioria das vezes, os benefícios tributários só podem ser percebidos após alguns anos (no mínimo 5 - 6 anos), o que faz com que esses produtos sejam indicados apenas se você não espera utilizar o dinheiro no curto prazo.

Por último, mas não menos importante, os produtos de previdência não são apenas para pessoas jovens. Por permitir planejar uma sucessão patrimonial simples e barata, muitas pessoas da melhor idade podem ter interesse em adquirir um plano de previdência, de modo a garantir que na sua falta, seus beneficiários possam receber sua herança rapidamente (por não passar pelo espólio) e sem cobrança de imposto pela transmissão (ITCMD – Imposto de transmissão causa mortis e doação). Nesse caso, o produto mais indicado normalmente é o VGBL, pois - diferente do PGBL - não possui limite sobre a renda bruta e pode receber aportes elevados para planejamento sucessório.

Artigo escrito por Pedro Borges Neto, CFP



* Capacidade de postergar o pagamento de um determinado imposto. Em especial existe para os produtos de previdência (PGBL, FAPI e Fundos de Pensão) onde as aplicações, até um limite de 12%, podem ser deduzidas da base de rendimentos tributáveis, sendo pago apenas no momento do resgate ou recebimento do benefício.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Bolsa de valores: algumas diferenças entre Análise Técnica e Análise Fundamentalista

No último post sobre ações (Por onde começar a investir em ações?), introduzi os conceitos básicos de AT e AF. Agora pontuarei as principais diferenças entre ambas, bem como os seus pontos fortes e fracos.

Apesar da crença dos fundamentalistas no movimento caótico dos preços no mercado, os mesmos acreditam que o mercado convergirá para o que chamam de preço alvo (target price) do ativo, com o passar do tempo. Assim, a única importância que dão para os preços do ativo, no presente, é estimar o potencial de queda ou subida (upside e downside) do mesmo, em outras palavras, saber se o ativo está “barato” ou “caro” em relação ao seu valor “real” ou “justo”.


A AT, assim como a AF, também parte do princípio de que os movimentos de preços no mercado são caóticos, porém, os analistas técnicos acreditam na existência de padrões que se repetem no tempo e que, através do domínio da ferramenta correta, seja possível identificar e se antecipar a estes movimentos com probabilidades favoráveis.

Estes movimentos passíveis de mapeamento são explicados, em boa parte, pelo comportamento humano. A AT entende que, pelo fato de o mercado ser criado e movido pelo homem, existem algumas reações padrões frente a determinadas circunstâncias, que podem ser captadas e identificadas com alguma antecedência e com razoável margem de acerto.

Pontos Fortes e Fracos da AT e AF:

Existem situações onde uma técnica é mais adequada que outra. Por exemplo, a AT desempenha melhor que a AF em prazos mais curtos, como horas, dias, semanas ou poucos meses. A AF desempenha melhor em prazos mais longos, como operações que duram anos.

A AT não performa bem em ativos com baixa liquidez (baixo volume), nestes casos a AF é mais recomendada.

Uma das limitações da AF é que fatores que não aparecem no balanço podem destorcer por completo a análise. Por exemplo, recentemente, no mercado de ações brasileiro, operações feitas no mercado de câmbio por algumas empresas brasileiras levaram as mesmas a grandes prejuízos e, conseqüentemente, aqueles que detinham suas ações. Aracruz Celulose e Sadia foram os exemplos mais recentes de que, até as empresas “sólidas”, com anos de tradições e líderes de mercado, estão sujeitas a este tipo de operação.

A AT, por sua natureza, gera muitos trades. Possui também uma infinidade de indicadores, que se não forem bem estudados e selecionados, podem causar confusão. O excesso de trades eleva os gastos com corretagem, o que pode transformar trades lucrativos em deficitários. Os gastos com software de AT, corretagem, emolumentos, custódia, IR, ISS entre outros são custos que não devem ser desprezados, principalmente pelos pequenos investidores.

O ponto forte da AT é o fato de ser acessível ao pequeno investidor e ao público geral. A maioria de suas ferramentas é de fácil compreensão, não requerendo nenhum tipo de conhecimento profundo de matemática ou economia para se ter acesso a elas. Isso a tornou bastante popular, principalmente nos E.U.A, onde é muito utilizada por pessoas físicas e até grandes instituições financeiras. No Brasil, nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais freqüente a presença de analistas técnicos nas mesas de operações das grandes instituições financeiras.

As diferenças são inúmeras entre as técnicas e ambas possuem seus pontos fortes e fracos, limitações e, mesmo assim, ainda continuam sendo as melhores técnicas de análises de ativos disponíveis no mercado. Todo indivíduo que esteja pensando em investir na bolsa deveria conhecer alguma destas duas técnicas antes de se aventurar no mercado.

O que não pode acontecer é a tomada de decisões no mercado com base no “achismo”, com base em notícias de jornais ou opiniões de amigos e conhecidos. Independentemente da técnica utilizada, é importante ter em mente que o mercado não obedece a uma ciência exata, os retornos não são garantidos e as oportunidades e os riscos são muitos. Porém, é possível captar informações que possam desequilibrar, a seu favor, a probabilidade natural que existe de 50% entre o “certo” e o “errado”.

Como sou estudioso de AT, vou introduzir alguns conceitos de Análise Técnica e suas respectivas aplicações nos meus próximos textos.

Artigo escrito por Gustavo Garcia.

Artigos relacionados:

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

É possível ganhar acima de 1% ao mês no Tesouro Direto?

Em nosso artigo Rentabilidade e Risco Passado do Tesouro Direto recebemos vários comentários e perguntas de nossos leitores. Uma delas me chamou atenção. Gostaria de compartilhar com todos vocês:

"Sendo bem simplista, eis uma indagação: vocês acham que, com muito estudo, é possível auferir rendimentos acima de 1% ao mês com os títulos públicos? Entendo que há várias variáveis a serem consideradas, no entanto, gostaria de saber se há alguma possibilidade real desses ganhos para uma pessoa que se interessa pelo assunto e acompanha as oscilações diuturnamente."

Sendo bem simplista, é possível auferir rendimentos superiores a 1% ao mês com títulos públicos. Mas para isso você será exposto a muitos riscos e restrições. Explico.

No momento que eu escrevo (16/10/13), o título público com maior prêmio disponível para compra no Tesouro Direto, a NTN-F com vencimento em 1º de janeiro de 2023, tinha um prêmio de 11,65% ao ano (equivalente a 0,92% ao mês). Lembre-se que estamos tratando da rentabilidade bruta da NTN-F em questão.

Para se chegar à rentabilidade líquida, devemos descontar deste valor: as taxas pagas ao seu banco ou à sua corretora, que variam de 0% a 2% ao ano; a taxa da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, que como o próprio nome revela é responsável pela custódia e liquidação dos títulos públicos (0,30% ao ano); e o imposto de renda sobre o ganho de capital, cujas alíquotas variam de 22,5% a 15%, dependendo do prazo do investimento.

Portanto, não é possível hoje comprar um título público, carregar até o vencimento, e auferir uma rentabilidade superior a 1% ao mês.

Para tentar auferir rentabilidade superior, seria necessário tentar ganhar com o movimento da curva de juros e a marcação do preço dos títulos à mercado. De uma maneira bem simples, funciona assim: toda vez que os juros de mercado sobem, o preço dos títulos públicos (LTN, NTN-B e NTN-F) caem. O contrário também é verdade: cai os juros, sobe o preço dos títulos públicos.

A curva de juros não sobe ou desce necessariamente em movimentos paralelos. Ou seja, pode ser que os juros de curto prazo subam e os juros de longo prazo não subam (e vice versa). Bons gestores de renda fixa ganham dinheiro com esses movimentos.

Ou seja, para auferir ganhos superiores aos ganhos que você teria apenas com o carregamento dos títulos públicos até o vencimento, você teria que oportunamente adquirir títulos públicos no momento de alta dos juros e, quando os mesmos estivessem em queda, realizar o lucro. Parece simples, mais é quase uma ciência, que envolve conceitos avançados de matemática financeira e finanças (precificação de títulos, arbitragem, risco de mercado etc).

A estratégia acima implica em mais custos, já que demanda uma negociação mais frequente dos títulos públicos, bem como um aumento considerável do risco de mercado, já que você estará explorando as variações diárias dos preços dos títulos. E tal risco pode te levar a perdas consideráveis. Basta ver o rendimento das NTN-B neste ano de 2013 no nosso artigo Rentabilidade e Risco Passado do Tesouro Direto.

Outro impeditivo de tal estratégia é que somente às quartas-feiras o Tesouro Nacional (TN) recompra os títulos públicos dos investidores. Ou seja, de nada adianta você querer se desfazer dos títulos públicos em outro dia da semana que não seja uma quarta-feira. Só essa restrição acaba com qualquer pretensão de um “trader” de renda fixa.

Pessoalmente, desaconselho pessoas que queiram utilizar o Tesouro Direto para negociar títulos públicos com frequência. A plataforma do TN é indicada para os investidores de longo prazo que compram um título e carregam até o vencimento, independentemente das variações da curva de juros. É menos arriscado e menos custoso.

Outros artigos sobre Tesouro Direto, clique aqui:
Artigo escrito por Flávio Girão Guimarães.