quarta-feira, 18 de julho de 2012

Valor Econômico: Metade dos DIs não ganha da poupança

A redução da taxa Selic para inéditos 8,00% ao ano já começa a fazer suas primeiras vítimas, os fundos DI, especialmente aqueles cujas taxas de administração são iguais ou superiores a 1,4% ao ano.

Mesmo com a redução do rendimento da caderneta de poupança, que agora tem variação igual a 70% do valor da taxa Selic (quando esta for igual ou inferior a 8,50% ao ano), tal modalidade de investimento traz melhores retornos quando comparados aos retornos gerados pelos fundos DI com taxa de administração superiores a 1,4% ao ano. É o que indica a excelente reportagem de Luciana Seabra, publicada no jornal Valor Econômico em sua edição de 17 de junho de 2012.

Metade dos DIs não ganha da poupança

Por Luciana Seabra, para o Valor Econômico em 17/07/2012 

De opção confortável para investidores conservadores, os fundos DI passaram a alternativa complexa. Até podem valer a pena, mas só depois de se fazer uma série de contas. Entre os fundos DI hoje oferecidos no varejo, 47% perdem para a poupança ou empatam com ela, ainda que o investidor esteja disposto a deixar o dinheiro parado por mais de dois anos para pagar a menor alíquota de Imposto de Renda (IR). O levantamento, com base na Economática, foi feito pelo economista Marcelo d’Agosto, autor do blog “O Consultor Financeiro”, no portal Valor. 

As novas regras da poupança, que vinculam o rendimento da caderneta à taxa básica de juros, e a última queda da Selic, que está em 8% ao ano desde quarta-feira passada, deixam os fundos DI ainda menos competitivos. Para o investidor que vai pagar a menor alíquota de IR (15%), é preciso que a taxa de administração seja menor do que 1,4% para que o retorno do fundo supere o da poupança. 

Para quem busca uma opção de curto prazo, o DI se torna quase inviável. Apenas 22% dos fundos ganham em rentabilidade da caderneta em aplicações de menos de seis meses, em que é preciso pagar 22,5% de IR sobre o rendimento. 

Para aplicações de seis meses a um ano, 70% dos fundos de varejo não satisfazem mais em termos de rentabilidade. Se o dinheiro ficar investido entre um e dois anos, 55% empatam com a caderneta ou perdem para ela. 

A taxa média para fundos DI voltados ao varejo é de 1,28%, segundo o último relatório da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) sobre taxas, referente a maio. Na média, portanto, os fundos DI só ganham da poupança para aplicações de mais de dois anos. 

Com a Selic em 8%, a Taxa Referencial (TR), que faz parte do rendimento da caderneta, na prática se anula, segundo o matemático José Dutra Vieira Sobrinho, vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB). “Pode haver uma TR positiva em um ou outro dia, mas a expectativa é que na média seja zero”, diz o professor. O cálculo da taxa é complexo e, segundo Dutra, não precisa mais ser feito ao realizar simulações para decidir pela melhor aplicação. Se a Selic passar por mais um corte, chegando a 7,5%, aí a TR será definitivamente nula, diz o professor. 

Considerando TR igual a zero, as regras da nova poupança determinam que a caderneta pague 70% da Selic, enquanto o fundo DI, em geral, rende a Selic inteira. No caso do fundo, entretanto, é preciso descontar a taxa de administração e o imposto de renda, que varia de acordo com o prazo da aplicação. É assim que Marcelo d’Agosto chega a uma regra prática para aplicações em fundos DI de seis meses a um ano. Elas só ganham da poupança se a taxa for menor do que 12,5% da Selic. No momento, portanto, fundos com taxa de 1% não atraem mais para esse prazo. 

Fazer contas, afirma Dutra, é cada vez mais necessário. A quem já tem dinheiro aplicado no fundo DI, ele sugere olhar a rentabilidade do mês imediatamente anterior. Ao divulgá-la, os gestores já descontam a taxa de administração, mas não o imposto. Então, é preciso verificar, de acordo com o prazo da aplicação, em qual das quatro alíquotas a aplicação se encaixa. Retirado o IR, é só comparar com o retorno da poupança. Dutra recomenda que essa análise seja feita mês a mês. 

“Os gestores vão ter de melhorar a rentabilidade dos fundos e diminuir a taxa de administração ou vão ter problemas”, diz Dutra. Um caminho, espera o professor, deve ser a inclusão de mais títulos do setor privado na carteira, que em geral rendem mais do que os papéis públicos. 

Os bancos estão resistindo a cortar as taxas dos fundos grandes, afirma d’Agosto, porque isso pesaria em suas receitas. “Para o investidor pequeno, em geral a saída é a poupança mesmo”. É bom lembrar que, nesse caso, é preciso esperar a chamada data de aniversário, quando a aplicação completa um mês, para garantir o retorno. Para o fundo DI, a liquidez é diária. 

Em relação à rentabilidade, a taxa de administração que faz o fundo DI valer a pena para qualquer prazo – menor de 0,77% – só é vista, em média, nos fundos com aplicação inicial entre R$ 100 mil e R$ 200 mil, de acordo com a Anbima. Para quem pode deixar o dinheiro investido por mais de dois anos, a taxa necessária somente pode ser encontrada, na média, para tíquetes de entrada de mais de R$ 10 mil. 

Apesar da desvantagem competitiva, as aplicações em fundos DI superaram os resgates em R$ 18,67 bilhões no primeiro semestre, na maior captação líquida para o período. O resultado, segundo a Anbima, foi influenciado pelas operações de um único fundo, que captou R$ 20 bilhões. Em balanço do setor no semestre, o vice-presidente da Anbima, Robert van Djik, afirmou que a indústria vai se adaptar naturalmente, ajustando as taxas. 

Na pesquisa Focus, a mediana das projeções apuradas pelo Banco Central junto a cerca de cem instituições financeiras aponta para uma Selic de 7,5% ao ano no fim de 2012. Se a autoridade monetária promover esse corte adicional, com base nos cálculos de d’Agosto, o fundo DI só vai ganhar da poupança para taxas de administração entre 0,73% e 1,3%.

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